201910.14
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Fintech de antecipação de recebíveis entra no radar de investidor

A fintech Antecipa, que desenvolveu uma plataforma de antecipação de recebíveis para pequenas e médias empresas, acaba de receber uma injeção de R$ 4,5 milhões do fundo de venture capital Redpoint eventures e de investidores-anjo. Criada em 2017, a startup já antecipou o equivalente a R$ 100 milhões e atingiu 25 mil negócios cadastrados no sistema. “Com os recursos captados, vamos desenvolver nossa tecnologia e aprimorar os modelos para fazer frente ao crescimento acelerado da empresa”, disse o fundador, Camilo Telles, ao Valor.

A Antecipa faz parte de um grupo de fintechs que vem chamando a atenção de investidores: as plataformas de antecipação de recebíveis. Pesquisa da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) identificou 87 startups focadas na concessão de crédito no país, sendo que 14 delas atuam com a antecipação. Nessa operação, o fornecedor que recorre às plataformas usa notas fiscais da venda de produtos ou serviços a empresas, como duplicatas, para adiantar o recebimento de recursos mediante um desconto no valor total.

O potencial de crescimento dessa modalidade salta aos olhos dos investidores. Estimativas do mercado indicam a existência de R$ 4 trilhões em notas que poderiam ser descontadas. “Fundos de investimento têm buscado negócios B2B, principalmente focados em pequenas e médias empresas, que são os clientes mais carentes de um serviço no mercado financeiro como um todo”, diz Marco Camhaji, ex-sócio da Redpoint eventures e hoje CEO da Adianta, outra plataforma criada há três anos.

Desde sua fundação, a Adianta já recebeu R$ 13 milhões em três rodadas de aportes de investidores como Yellow Ventures, Osher Tech, DGF e 42K, e já planeja a quarta captação, de US$ 10 milhões, que deve sair até o fim do ano. No total, a Adianta já antecipou o equivalente a R$ 155 milhões a clientes com faturamento anual entre R$ 3 milhões e R$ 50 milhões ao ano. Em média, eles antecipam R$ 75 mil por operação, a um prazo médio de 46 dias. Das operações solicitadas, 65% são aprovadas.

O avanço das fintechs de antecipação de recebíveis se dá ainda pelo aprimoramento da regulação que traz mais segurança no uso das notas fiscais. No negócio de antecipação, o maior problema não é a inadimplência, uma vez que, em geral, o devedor é uma grande empresa, mas a apresentação de notas falsas ou duplicadas. Para solucionar esse problema e trazer mais solidez a essa garantia, no fim do ano passado, a Lei 13.775/18 autorizou a criação de duplicatas eletrônicas no Brasil, com a digitalização do documento. Com isso, ele passará a ser registrado em centrais especializadas nesse negócio.

As novas plataformas competem com os bancos tradicionais na antecipação de recebíveis e desconto de duplicata. Dados do BC mostram que, em agosto, essa foi a linha de crédito que mais cresceu entre todas as disponibilizadas pelas instituições financeiras às empresas. No total, foram emprestados R$ 83,7 bilhões, alta de 31,5% em relação ao mesmo período de 2018.

A redução da Selic também contribuiu para o surgimento dessas plataformas. Nesse nível de juro, essas empresas conseguem captar recursos no mercado e emprestá-los a custos competitivos em relação aos bancos, que sempre tiveram acesso a dinheiro mais barato. Dessa forma, tradicionais “factorings”, que já trabalhavam com antecipação, começaram a lançar plataformas digitais mais modernas para alavancar o negócio, assim como empresas que oferecem sistemas de gestão empresariais, chamados ERPs, também começaram a fazer a antecipação.

As fintechs de antecipação de recebíveis trabalham com dois modelos. A Antecipa, por exemplo, cadastra grandes empresas que têm dinheiro em caixa rendendo o juro básico para que disponibilizem esses recursos aos fornecedores, a um custo maior e com maior agilidade. Nesse caso, a plataforma recebe uma comissão pela intermediação, cobrada da grande empresa.

No modelo mais disseminado, a plataforma compra a nota fiscal do fornecedor. Ela funciona como uma factoring tradicional, que capta recursos no mercado para fazer a antecipação, como os fundos de recebíveis, mas com estrutura totalmente digital.

No limite, essas plataformas estão dispensando a necessidade de a pequena ou média empresa recorrer a um banco para fazer a antecipação dos recebíveis ou tomar um empréstimo na modalidade de capital de giro. Elas se conectam diretamente com o sistema de gestão empresarial do cliente, conseguindo as notas de maneira mais rápida. Em alguns casos, a liberação dos recursos pode ocorrer em segundos.

O custo é competitivo ao do banco. Na Antecipa, por exemplo, as taxas vão de 1,4% a 3,5% ao mês, com a média em 2,4% ao mês. Segundo dados do BC, no caso dos bancos, a taxa média fica em 1,4% ao mês – se considerados impostos, o custo sobe mais 0,5% ao mês. Bancos normalmente só aceitam clientes com menor risco e limitam a oferta de crédito a pequenas e médias empresas com pouco tempo de existência.

Simcha Neumark, presidente da Weel, buscou inspiração em sua vida pessoal para lançar a plataforma de antecipação de recebíveis. No início da década de 1990, seu pai, proprietário de uma fábrica têxtil na região do Bom Retiro, em São Paulo, tomou um empréstimo bancário para fazer uma entrega de encomenda a um cliente. Dias depois, teve o pedido cancelado, deixando de honrar o contrato assinado com a instituição financeira. Com isso, ficou sem acesso a novas linhas bancárias e fechou o negócio alguns anos depois.

A partir da criação da nota fiscal eletrônica, que traz mais formalidade aos pequenos e médios negócios, Neumark teve a ideia de fundar a Weel em 2016. “Somos uma plataforma de antecipação conectada ao sistema de gestão empresarial que dá crédito em 55 segundos”, diz Neumark. Desde a criação, a plataforma já recebeu US$ 45 milhões em aportes, entre eles da gestora Franklin Templeton, do Banco Votorantim, dos fundos Monhashees e Mindset Ventures. Uma nova rodada deve ser anunciada em breve.

Fonte: Valor Econômico